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Religiões da Lusitânia













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A LUSITÂNIA PAGÃ


OS LUSITANOS

Os Lusitanos, não eram um único povo com uma noção de nacionalidade, mas sim um conjunto de povos que viviam em regime tribal, isolados uns dos outros, geralmente estabelecidos no cimo de montes, protegidos por muralhas, que se moviam constantemente à procura de terrenos mais férteis ou então obrigados pela opressão de adversários, chegando por vezes a guerrearem-se entre eles, mas que em tempo de crise se juntavam de modo a defender os seus territórios de um inimigo comum. É pois, difícil definir um modo de vida comum ou falar seguramente dos hábitos destes povos.
Não se conhece ao certo a estrutura da sociedade lusitana mas não teriam contudo uma organização político-administrativa estruturada, elegendo certamente chefes que exerciam um controle da conduta do grupo e que representavam a tribo quando necessário.
No caso da guerra contra Roma, sabemos da existência de chefes nas várias tribos lusitanas, que na hora de maior crise acabaram por eleger um chefe único, Viriato.
Até à chegada dos romanos, estas tribos tiveram uma vida social, económica e religiosa autónoma. Os testemunhos que nos restam hoje em dia sobre a península dessa época, são sobretudo relatos de autores antigos que descreviam a Lusitânia como uma região de densa vegetação, matas, bosques, montanhas, rios, cheia de riquezas naturais, chegando a falarem da existência de ouro e pedras preciosas no rio Tejo. Havia contudo uma séria discrepância entre aqueles que viviam no litoral e os que viviam nas montanhas. As tribos que viviam junto à zona costeira, auferiam de terras férteis, um clima ameno, rios navegáveis, tendo por isso uma boa agricultura, boa pesca e facilidade de transporte. Aqueles que viviam no interior, contavam com terras áridas, comunicações difíceis e um clima mais rigoroso. Os primeiros dedicavam-se à agricultura, pesca, criação de gado, havendo a existência de ricos agricultores no litoral e planícies, os últimos, eram sobretudo pastores que por vezes devido às más condições de vida acabavam por se reunir em bandos de salteadores.
As mulheres, trabalhavam em casa, no campo, praticavam a fiação, a tecelagem do linho e lã e a olaria, educavam as raparigas para serem esposas e mães e eram estas que escolhiam o marido que mais lhes convinha. Aos homens cabia a criação do gado, a metalurgia e a arte da guerra. Era uma sociedade monogâmica, onde as qualidades morais mais apreciadas eram a coragem e a valentia.
Um dos autores que nos deixou mais informação sobre a vida dos lusitanos, foi Estrabão, escritor grego do século I, que nunca esteve na península mas que se apoiou em textos de outros autores mais antigos como Políbio, Poseidónio, Artemídores, Asclepiades que passaram pela península nos primeiros tempos da ocupação romana.
Estrabão descreve-nos os lusitanos na sua Geografia como tendo cabelo comprido como o das mulheres que atavam em combate, vestiam saios e dormiam no chão sobre a palha e cobertos com um manto de lã. O vestuário dos homens era escuro e o das mulheres colorido e bordado. Eram hábeis na arte de combater e na de armar emboscadas. Tal como a arqueologia mais tarde comprovou, em combate usavam um pequeno escudo redondo que seguravam com correias e que tinha como finalidade interceptar os dados e setas lançados pelos inimigos, utilizavam punhais, espadas, lanças de arremesso empregavam a metalurgia do ferro e bronze para fabricarem as suas armas. Utilizavam ainda uma armadura feita de um tecido muito espesso de linho e a cabeça ia coberta com um capacete metálico ou de couro; para cobrirem as pernas utilizavam grevas de couro ou tecido. Cultivavam trigo, linho, plantavam a vinha, oliveira, cerejeira, figueira, criavam cabras, ovelhas, bois, porcos e cavalos, sendo os do litoral famosos pela sua agilidade. Praticavam ainda a caça, a pesca e eram recoletores. Estrabão diz-nos ainda que os lusitanos costumavam untar o corpo, tomavam banhos de vapor e em seguida banhos de água fria e alimentavam-se apenas uma vez por dia com uma comida leve mas abundante. Praticavam a incineração e os mortos eram tratados conforme a sua condição social.
Este autor grego para além de descrever os lusitanos, descreve igualmente outros povos da península, nomeadamente os Galaicos, Astures, entre outros, que teriam certamente um modo de vida muito semelhante ao dos lusitanos. Se assim fosse, podemos também depreender que os lusitanos tinham como costume beberem sobretudo água e por vezes uma espécie de cerveja ou vinho; que utilizavam vasilhas de madeira tal como os celtas e também de barro; que o seu pão era feito de bolota seca, pisada e moída; que utilizavam manteiga em vez de azeite; que o seu sal era vermelho e que tinham como costume comerem em grupo, formando uma roda e que a comida era passada de mão em mão, consoante a faixa etária ou condição social dos comensais. Utilizavam pedaços de prata cortada como moeda, mas a troca directa de bens era também frequente. Praticavam exercício fisco, baseado em técnicas de combate e costumavam dançar e entoar cânticos. Quando alguém estava doente, era colocado à porta de casa ou à beira dos caminhos para que quem passasse e já tivesse sofrido do mesmo mal pudesse explicar a cura. Estrabão fala ainda da utilização de barcos feitos de couro ou de troncos de árvores. Os condenados à morte eram levados para cima de rochedos e atirados para os precipícios e os que cometiam parricídio eram apedrejados e expulsos das terras.
Em casos extremos chegavam a cometer suicido e praticavam o canibalismo.
O autor acaba o seu recito falando da falta de cultura e selvajaria dos montanheses ibéricos.
Estes relatos de autores antigos são contudo incompletos pois foram feitos sobretudo de forma indirecta baseados em outros relatos.




































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SANTUÁRIO DE ENDOVÉLICO- Temos hoje em dia conhecimento de dois santuários dedicados ao deus Endovélico, um que terá sido o primitivo situado na Rocha da Mina e um segundo posterior a este situado no alto do outeiro de S. Miguel da Mota, ambos os sítios pertencentes ao concelho do Alandroal.
O santuário da Rocha da Mina, é um santuário muito simples e primitivo, Paulo Loução na sua obra Portugal Terra de Mistérios dá-nos esta descrição deste templo feita por Manuel Calado: Santuário rupestre implantado num esporão rochoso com vertentes abruptas, cuja área habitável é extremamente reduzida. As escadas e os pavimentos talhados na rocha são elementos recorrentes num número relativamente elevado de santuários pré-romanos, alguns dos quais romanizados, e são interpretados frequentemente como altares de sacrifício. Este tipo de monumentos é conhecido na Meseta espanhola e no Norte de Portugal, em áreas consideradas de maior celtização....
O santuário de São Miguel da Mota, que deve este nome ao facto de com a implantação da religião católica na península o culto pagão ao deus Endovélico ter sido substituído pelo culto a S. Miguel, é já um templo da época romana. Como se sabe, os Romanos durante todo o seu processo de romanização para além de levarem a sua cultura e religião aos povos que iam romanizando foram também respeitando e absorvendo os cultos locais. Sendo assim, o deus Endovélico, foi também um deus muito adorado pelos romanos como se pode comprovar pelos ex-votos encontrados neste santuário. Este santuário prosperou sobretudo durante a época romana imperial, época de que data a maioria dos monumentos descobertos.
A maior parte das informações que temos sobre este segundo santuário, devem-se sobretudo às investigações de José Leite de Vasconcelos, que como ele próprio nos diz na sua obra Religiões da Lusitânia , teve a sorte de aí fazer a sua estreia como arqueólogo, fazendo um estudo aprofundado do deus Endovélico.
Deste templo foram recolhidas inscrições em pedra e em bronze, cerâmicas, imagens esculpidas do deus, dos seus devotos e de animais sagrados, lápides funerárias, pedras escavadas em forma de pia, aras votivas, cipos e também alguns elementos que compunham a estrutura arquitectónica do templo. Todo este espólio é de uma grande riqueza como fonte de conhecimento pois numa altura em que poucos relatos escritos nos foram deixados, permite-nos obter informação sobre o modo de vida destes povos, da sua cultura, religião e economia.
Segundo Leite de Vasconcelos deveria existir um oráculo dentro deste templo, pois assim o dão a entender algumas das inscrições recolhidas. Oráculo esse que se manifestava seguramente através de sonhos. O consultante chegava trazendo uma oferta ao deus, fazia um sacrifício ou uma libação, dormia dentro do santuário e na manhã seguinte contava os seus sonhos aos sacerdotes que os interpretavam. Não existe contudo qualquer escrito sobre a forma de como era consultado o oráculo, nem da real existência de sacerdotes, sendo este relato uma mera suposição. Paulo Loução , fala-nos de uma inscrição que teria nela gravada a expressão ex imperato averno, que foi traduzida por Leite de Vasconcelos como segundo a determinação que vem de baixo, o que implicaria que tal como no templo de Apolo, existiriam também aqui vapores vindos do interior da terra que teriam uma função oracular. A meu ver contudo, esta inscrição pode referir-se ao carácter infernal do deus que enviaria do submundo as respostas ao que era perguntado.
A este santuário, recorriam pessoas de diversos estratos sociais, assim o provam os ex-votos encontrados que vão desde toscas representações do deus até oferendas mais elaboradas e cuidadas, contendo as inscrições referências tanto a escravos como a patrícios romanos; e de diversas regiões, falando-nos João Manuel Garcia da diversidade das áreas linguísticas expressas na forma de gravar o teónimo.
Este santuário seria então um local de culto, onde os crentes se dirigiam para pedir algo ao deus, para pagar as suas promessas e para serem iluminados sobre o caminho a seguir quando estavam em dúvida sobre o seu futuro. Em troca faziam sacrifícios, libações e deixavam oferendas e ex-votos.





































CRENÇAS - O homem proto-histórico vivia em constante contacto com a natureza, era dela que tirava o seu sustento, era dela que dependia para sobreviver ou não. Sujeito constantemente aos seus caprichos o homem vivia com medo daquilo que não podia controlar, nem explicar. A natureza era para estes homens como uma divindade, eles respeitavam-na e temiam-na. Era a natureza que lhes fornecia o alimento e a matéria-prima para fazerem os seus abrigos, as suas armas de defesa, os seus instrumentos para trabalharem a terra. Era ela que os alimentava, abrigava e castigava. O homem assistia ao nascer e ao pôr-do-sol, às fases da lua, aos inexplicáveis eclipses e trovoadas, agradecia pela chuva, e pelas enchentes dos rios que tornavam as terras mais férteis, pela caça, pelos cereais que cresciam, pelos frutos que colhia, pelos rios cheios de peixe e receava as chuvas abundantes que tudo destruíam, os Invernos rigorosos que lhe dificultavam a sobrevivência, os verões secos que queimavam as suas colheitas. Foi fácil portanto que várias crenças começassem a surgir de modo a que o homem conseguisse explicar minimamente aquilo que via, crenças essas que provinham de épocas anteriores, do contacto com outros povos e da própria cultura lusitana.
Segundo Possidónio, historiador grego dos séculos II-I a.C., os povos do litoral, acreditavam que todos os dias o sol mergulhava no mar fazendo barulho ao extinguir-se e aumentava assim de volume, o ocaso era pois uma hora sagrada e as populações rezavam para que o sol não se apagasse para sempre. Crença essa semelhante à egípcia, em que os habitantes das margens do Nilo, acreditavam que todas as noites, Rá, o deus-sol, tinha que atravessar o rio numa barca e travar uma luta para que no dia seguinte se pudesse elevar novamente nos céus.
Outras das crenças conhecidas dos lusitanos era a de acreditarem que as éguas do Monte Santo eram fecundadas pelo vento, explicando-se desta maneira a grande agilidade e velocidade das suas crias.
Os lusitanos tinham medo da noite e acreditavam na continuação da vida após a morte. A noite era a hora do desconhecido, a hora em que as almas dos mortos novamente regressavam à terra e vagueavam entre os vivos, as almas dos antepassados vagueavam pelos bosques, na confluência dos rios, nas encruzilhadase aqueles que não recebiam as devidas cerimónias fúnebres, não perdoavam e faziam cair desgraças sobre a família.
O ferro era considerado um metal impuro e a seu uso era proibido dentro de certos santuários e locais de culto, onde eram utilizados preferencialmente objectos de bronze, barro e pedra.
Todos os guerreiros e viajantes respeitavam os cultos e deuses das terras onde entravam.
Não se devia desistir de promessas pois isso podia provocava a ira dos deuses.































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SERRA DA LUA - O Sol e a Lua, duas presenças constantes no nosso planeta desde o princípio dos tempos, começaram logo cedo a serem admirados e venerados pela espécie humana. O homem foi evoluindo e desenvolvendo as suas diferentes culturas mas rara deve ter sido aquela que não divinizou estes dois astros. Para Oliveira Martins , o culto da lua é posterior ao culto do sol, pois a lua simbolizando as trevas, teria procedido o culto solar. Não está no âmbito deste trabalho fazer uma exposição dos diversos significados destes dois símbolos através da história, posso contudo concluir numa breve síntese que na maior parte das culturas a Lua estava ligada ao princípio feminino e o Sol, ao masculino, sendo que a Lua como princípio feminino começou a ser vista como dependente do Sol, devido ao facto deste lhe enviar a luz que ela reflecte.
O Sol em certas culturas era venerado como uma divindade, era comparado a um deus pai que por um lado ilumina, aquece e alimenta o homem e por outro lado também o castiga provocando períodos de seca que levam à falta de alimento e consequentemente a períodos de fome. A Lua por seu lado sempre foi vista mais como uma deusa mãe que durante um terço do mês acompanha e ilumina o homem através das misteriosas hora nocturnas.
A Lua terá sido o primeiro astro que o homem começou a observar, ao fazê-lo este compreendeu as suas fases e começou a relacioná-las com alguns aspectos da sua vida começando a guiar-se por elas. Elit na sua obra Traité dhistoire des religions , dá-nos esta definição do nosso satélite: Astro que cresce, diminui e desaparece, cuja vida está submetida à lei universal do devir, do nascimento e da mortea Lua conhece uma história patética, tal como a do homemmas a sua morte nunca é definitivaEste eterno retorno às suas formas iniciais, esta periodicidade sem fim fazem com que a Lua seja por excelência o astro dos ritmos da vidaela controla todos os planos cósmicos regidos pelo devir cíclico: águas, chuva, vegetação, fertilidade. A Lua é a virgem, a mãe e a velha, todos os meses o homem acompanhava as suas etapas no céu e comparava-as ao seu próprio ciclo de vida passando pelo nascimento, crescimento, maturidade, decadência e morte. Contudo tal como o homem acreditava na continuação da vida para além da morte, também a Lua conseguia sempre renascer após o seu desaparecimento. A Lua passou assim a ser símbolo de renovação.
Quanto ao culto da Lua no ocidente peninsular, será um culto de origem pré-histórica que terá ganho alento durante a época pré-romana e romana.
Nos tempos proto-históricos a Serra de Sintra era conhecida pelo nome de Serra da Lua, não se sabe ao certo quando começou o culto a este astro nesta região mas segundo José Leite de Vasconcelos : Não seria de estranhar que os Fenícios ali tivessem um santuário com a invocação da Lua, como decerto os tinham no sacro promontório em honra de outros deuses: em tal caso o respectivo nome da divindade seria Astarte, deusa semítica da Lua e do oceano, a que os gregos fizeram corresponder Afrodite. De modo a confirmar esta afirmação de Leite de Vasconcelos não nos podemos esquecer que a Serra de Sintra estende-se até ao Cabo da Roca que era designado nesta altura por Cabo da Serra da Lua. Sendo os fenícios uns povo ligado ao mar, era pois muito provável que eles realmente tivessem cultuado a Lua nesta região pois esta sempre foi uma companhia para os navegantes iluminando-os no meio da escuridão marítima.
O nome actual Sintra etimologicamente provém de Sin, nome que os babilónios davam à Lua, juntamente com o sufixo Tra que significa três e que pode ser uma alusão à tríplice manifestação da Lua, a virgem, a mãe e a velha como já referi neste capítulo ou então às sua tripla fase de deusa do céu, deusa da terra e deusa do submundo, tal como era conhecida na Grécia.
Quanto a notícias sobre este culto, Ptolomeu, escritor grego da época romana (século I-II), terá sido o primeiro a usar a expressão Promontório da Serra da Lua.
André de Resende, escritor humanista do século XVI, na sua obra De Antiqvitatibvs Lvsitaniae, refere-se igualmente ao Monte da Lua e diz-nos que: Junto ao sopé da serra, mesmo no cima do promontório, que é cortado abruptamente sobre o oceano existiu outrora um templo consagrado ao Sol e à Lua, do qual agora apenas existem ruínas nas areias do litoral e cipos, alguns com inscrições reveladoras da antiga superstição. E publica em seguida as inscrições de dois cipos da época romana dedicados ao Sol e à Lua.
Contudo hoje em dia não nos restam quaisquer indícios visíveis da existência de um santuário na Serra de Sintra.
















PROMONTÓRIO SACRO- Embora este santuário já não se encontre dentro do território lusitano, acho importante fazer-lhe aqui referência pois terá sido um importante santuário da península antiga situado no actual território português.
Promontorium Sacrum era o nome antigo do actual cabo de S. Vicente de Sagres. Segundo Estrabão teria existido ali um santuário dedicado a Héracles que seria uma denominação grega do deus fenício Melqart ou Mel-karth, divindade a cujos fenícios erguiam santuários junto dos portos das suas colónias e que foi assimilado pelos gregos a Héracles.
Os fenícios, povo de mercadores e navegadores, teriam colonizado a Península por volta do século XII a.C., colonização essa que se deu sobretudo no sul.
Os promontórios tinham um carácter sagrado para os antigos pois era aí que a terra encontrava o mar e porque muitas vezes eram locais de navegação perigosa. O Promontorium Sacrum para além destes dois aspectos era também um ponto importante para aqueles que vinham do calmo Mediterrâneo e iam entrar no grande oceano Atlântico, donde se compreende a necessidade de procurarem protecção antes de se aventurarem na navegação atlântica.
Contudo Estrabão diz , baseando-se nas palavras de Artemidoro [séc. I a. C.]: que não se vê lá nenhum santuário de Héracles, como Ephoro inexactamente dissera, nem altar, delle ou de qualquer outro deus, mas que em muitos sítios há grupos de três e quatro pedras, que são pelos visitantes voltadas, em virtude de um costume tradicional, e deslocadas, depois delles fazerem libações. Isto contudo não prova que o testemunho de Éforo [séc. IV a. C.] fosse falso, pois sendo este autor anterior aos outros dois, é possível que no seu tempo ainda existisse o santuário de Héracles que terá desaparecido posteriormente. Outra das hipóteses que Leite de Vasconcelos dá para explicar o facto de não existir nenhum santuário nos tempos de Artemidoro é o facto de todo o Promontório ser talvez um local sagrado só por si e de nunca ter existido um santuário propriamente dito.
Diz-se que neste lugar os deuses reuniam-se à noite, altura em que nenhum mortal se atrevia a lá entrar por respeito e por receio. Devido à sacralidade daquele lugar era proibido que aí fosse derramado sangue, o que fazia com que neste santuário não se realizassem sacrifícios nem libações com esse líquido.
Quanto às pedras sagradas referidas por Artemidoro, não se sabe ao certo qual o seu fim mas também não está no âmbito do meu trabalho debater este assunto, contudo uma das mais recentes suposições foi feita por J. Pinho Monteiro e Mário Varela Gomes que na sequência de Estácio Veiga, terão dito que estas pedras são menires.
É pois muito difícil provar a existência deste santuário, restando-nos apenas os relatos dos autores antigos.